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Mostrando postagens de março, 2018

Antonio Candido, a Literatura e o Velho Graça

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Publicado em 12/05/2017  Antonio Candido. A notícia chegou cedo por um telefonema de São Paulo. O Mestre falecera. O verde recém roçado e roçado pela brisa ensolarada traz Antonio Candido para o Campus da UFRJ. Os limites literários mudam de lugar segundo as épocas,eu ia relembrar na aula de hoje. O extra-literário invade o texto, uma literatura autotélica não existe. Interessa ver como o que vive fora do texto se transforma em estética nas mãos do escritor, daí sim. Não há como definir uma literatura sem levar em consideração o processo histórico. Graciliano Ramos transforma em arte literária questões sociais, históricas e estéticas da sua época. Mas as soluções que propõe estão lá, bonitinhas. Penso no Candido para o texto de abertura da conversa com os orientandos nesta manhã. Nem sei se ele concordaria com tudo o que vou dizer nessa linha. Mas sua presença me passa confiança, estão nos seus livros.  Abraço afetuoso, Candido, e obrigado pelo carinho e ...

SER OU NÃO SER ? EIS A QUESTÃO : O DRAMA DE HAMLET

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Postado em 25/03/2018. A caminho do Fundão: Hamlet, édipo, covardia. Madame K., sempre ela, perguntou se podia assistir à minha aula. A Faculdade derretia, a sala com um mísero ventilador de teto tão barulhento quanto ineficaz, o Campus da UFRJ inteiro se dissolvia. Não tinha como dizer não à minha amiga, mas ela, muitas vezes, mais atrapalha do que ajuda. Deixava as suas tarântulas no Instituto de Biologia, grande especialista que é desses bichos, para saborear Shakespeare (o verbo saborear foi dito por ela). Tudo bem. Falávamos sobre a famosa indecisão de Hamlet, para alguns covardia, em matar o tio Claudius, assassino do seu pai, logo casado com a viúva Gertrudes. Padrasto,então, de Hamlet. O fantasma do pai lhe apareceu sobre as muralhas da cidade de Elsinore exigindo fosse vingado pelo filho. O amor duvidoso de Hamlet por Ofélia e a sua melancolia - para alguns fruto de incertezas amorosas - escondia, na verdade, a angústia e a aflição e o tormento que lhe oprimiam o p...

Madame K e as Feministas

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                                                             Publicado em 03/03/2018.   Madame K. e Marguerite Duras, feministas. O Campus da UFRJ, coberto durante seis dias por luz cinza, esverdeou nesta sexta.  Madame K. começou com uma palavra forte, que reproduzo em respeito à verdade e à personagem: estou sendo corneada. Logo você, a tarântula matadora de machos pós-coito, retruquei. Mato-os pelo olvido, esse esquecê-los de repente é minha perversão e minha perfídia. Talvez eu seja grosseira, ok, mas sou assim É uma jovem de 19 anos, ela continuou. Ele vai acabar voltando, eu sei, então o perdoarei e no dia seguinte lhe conto que - super pena - estou envolvida com outro há várias semanas e perdidamente apaixonada. As núpcias taciturnas da vida vazia com o objeto indescritível. Lacan foi por essa linha a...

As Minissaias de Madame K, a Literatura de Machado e o Preconceito Velado

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Publicado em 04/01/2018     Quincas Borba, Madame K., minissaia e envelhecimento. A pauta do encontro era o Seminário Internacional sobre Machado de Assis a se realizar em Nova Iorque, em 2019. Ela apareceu ao encontro no restaurante no Campus da UFRJ - o chamado burguesão - de surpreendente minissaia. Surpreendente de tão curta. À minha observação de espanto ela tascou logo o vocábulo machista!, comum no seu discurso ( ela está coberta de razão nesse combate). Se fosse um homem com 50 anos vestido de jovenzinho ninguém diria nada, resmungou. Só que, pensei, o seu ultimo companheiro, mais velho 10 anos, a deixou por um rapaz de 20, o fato explicaria a roupa? Quem pode me criticar por isso? Ela continuou. Nem o Machado nem você. No romance GRITO você criou a Eugenia , de 82 anos, amarradona no menino Fausto, de 19 .Se trata da Eugenia e do Fausto de romances passados, é um clichê ? Ela ironizou. Lembrei-lhe que no Quincas Borba , capitulo 64, o narrador cita uma persona...

Não é Fechando os Olhos que se Sonha

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Almoço na Relva , 1863, Manet. Óleo sobre tela, 214 X 270 cm. Museu do Louvre, Paris, França. Publicada em 16/03/2014      A metralha do calor domina as cores do Campus do Fundão. A sombra fraterna dos livros é o abrigo que a Educação proporciona. Mais ou menos assim foi a conversa entre os cinco passageiros do carro, em meio a acalorada discussão a respeito da ideologia dos jornais e semanários brasileiros atuais. Foucault, em trabalho sobre a obra de Flaubert, relembra que imaginar não é criar uma alternativa ao mundo real, é, antes, reproduzir ou recompor o que lemos ou ouvimos. A referência são os livros internalizados. O mundo das histórias lidas e ouvidas é o verdadeiro mundo, esse é o mundo real, não o contrário. Ou seja, constrói-se um mundo - ideologias, crenças, medos, fobias, preconceitos - via histórias . A obra de Flaubert ou a pintura de Manet estabelecem uma relação com a própria literatura e com a arte da pintura, nada mais. Madame Bovary...

Derrida Explica

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DERRIDA EXPLICA A caminho do Fundão : já preparando a volta ao Campus da UFRJ na segunda feira, e em plena releitura de Dom Casmurro, do Machado, surge Derrida, muito em função da resenha de hoje no Prosa, do Globo. Para o filósofo, o desejo do leitor de compreender e de dominar definitivamente o texto é em vão. O texto, justamente, é incontrolável e rebelde a qualquer servidão. É nessa fricção do vai-e-vem que a leitura se faz. Ao falar de desconstrução, Derrida não se refere a uma busca de ... coerência - como a intenção do autor -, ao contrário, é a ausência de uma coerência que vem apontada. Não há explicações no texto escrito ( e na fala), antes pura exposição e questionamento de hierarquias e de oposições. A desconstrução desnuda o texto, joga-o contra si próprio, mostra suas contradições e sua inconsequência. Sentidos constroem-se e se desconstroem sem cessar durante a leitura. A coerência e a unidade de sentido, fruto da liberdade do sujeito prop...

Casadinhos de Fresco

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CASADINHOS DE FRESCO publicado em 12/03/2018  O colega fazia conferência no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ, no centro do Rio, no belo prédio construído nas primeiras décadas do século XIX, onde funcionou a Academia Real Militar. O IFCS vai tremer, me confidenciou ele, que chegou ao local junto comigo. Ele faria a conferência ao lado de um professor da Universidade de Berlim, um dos maiores militantes da causa gay na Europa, o colega precisou. Gênero, identi ... dades e política o tema.O professor brasileiro abriu a conferência. Leu umas frase que me soaram conhecidas - " A união dos dous era tal que uma senhora chamava-lhes casadinhos de fresco ". Me lembrei das frases no conto Pílades e Orestes, do Machado . Nunca pensara em Quintanilha e Gonçalves ( os personagens do conto) desse prisma. Mas me assustei. Alguém da plateia interrompeu brutalmente a exposição gritando " você não vai nos dizer que Machado de Assis escreveu texto c...