Madame K e as Feministas
Publicado em 03/03/2018.
Madame K. e Marguerite Duras, feministas. O Campus da UFRJ, coberto durante seis dias por luz cinza, esverdeou nesta sexta.
Madame K. começou com uma palavra forte, que reproduzo em respeito à verdade e à personagem: estou sendo corneada. Logo você, a tarântula matadora de machos pós-coito, retruquei. Mato-os pelo olvido, esse esquecê-los de repente é minha perversão e minha perfídia. Talvez eu seja grosseira, ok, mas sou assim É uma jovem de 19 anos, ela continuou. Ele vai acabar voltando, eu sei, então o perdoarei e no dia seguinte lhe conto que - super pena - estou envolvida com outro há várias semanas e perdidamente apaixonada. As núpcias taciturnas da vida vazia com o objeto indescritível. Lacan foi por essa linha ao dissertar sobre a obra de Marguerite Duras.
Duras criticava fortemente as ideias de Simone de Beauvoir , para ela apenas macaqueavam valores masculinos- da estética à visão machista das coisas e do mundo. Nem a frivolidade, óbvio, tampouco a imitação das normas injustas e fascistas masculinas.O primeiro ponto seria estabelecer uma relação nova com a língua produto social a serviço de valores masculinos. Preencher um vazio, não o vazio do poder e dos micro-poderes, exaltar o " escrever-mulher". Essa diferença Duras afirmava, sim, mas, em ato masoquista, recusava fosse essa diferença aceita pela sociedade. Duras era alcoólatra e tinha acessos de fúria, consta. Madame K. não, é verdade. Ao eu dizer " é mais produtiva e prática a proposta da Simone" o caldo entornou.. Pra quê! Madame K. deu um berro -alunos às voltas com gordos sanduíches no trailer olharam, amedrontados - e me ameaçou com a mão espalmada. Saiu às pressas, nem pagou o refrigerante, ainda lhe gritei Fora Temer, mas nem assim ela se virou.Que coisa !
COMENTÁRIOS DA PROFª VERA DIAS
Os distintos leitores dessa postagem darão razão a Godofredo De Oliveira Neto desafiar Madame K ao lerem esse artigo publicado pela famosa crítica literária já falecida, Mary McCarthy. Eu me lembrei dela e a retirei dos meus guardados de artigos relevantes e a posto aqui para vcs lerem.
E, claro, pelo menos para mim, existem dois livros cuja leitura é fundamental para conhecermos bem a vida e a obra de Simone de Beauvoir. Toda essa discussão do Godredo nessa crônica referindo-se ao feminismo e o embate entre a visão de Simone de Beauvoir e Marguerite Duras pode ser compreendida se estdarmos obras dessas duas personalidades históricas. E o melhor é começarmos por ler a mais emblemática obra de Simone. Os dois volumes do livro "O Segundo Sexo".
O Segundo Sexo foi publicado originalmente em 1949 e consagrou Simone de Beauvoir na filosofia mundial. A obra, no entanto, não ficou datada e tornou-se atemporal e definitiva. No primeiro volume, a autora aborda os fatos e os mitos da condição da mulher numa reflexão fascinante. Já no segundo, Simone de Beauvoir analisa a condição da mulher em todas as suas dimensões: sexual, psicológica, social e política. Essa obra fundamenta foi a responsável por inaugurar um novo modelo de pensamento sobre a mulher na sociedade.
Podemos ler e/ou baixar diretamente aqui:
3) O impacto da obra de Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre no pensamento moderno é inestimável, mas o casal de escritores-filósofos-existencialistas é lembrado igualmente pela vida que levou. Ambos eram brilhantes, corajosos, indivíduos profundamente inovadores. Este livro mostra a paixão, energia, audácia, humor e contradições de seu notável e pouco-ortodoxo relacionamento. Mostra também, sobretudo, como a coragem e o brilho intelectual de Sartre e Beauvoir influenciaram de forma determinante o pensamento da época em que viveram. Em “Tête-à-Tête”, a biógrafa Hazel Rowley nos oferece o primeiro retrato duplo dessas duas figuras colossais e sua intensa e turbulenta relação. Através de entrevistas originais e acesso a material inédito, Rowley os retrata de perto, em seus momentos mais íntimos e ainda conta pelo menos 28 casos extraconjugais do casal.
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Em relação à Marguerite Duras, podemos conhecê-la melhor ainda através de seu próprio
testemunho aqui.
testemunho aqui.
Vale ressaltar aqui que Marguerite Duras (1914-1996) já teve uma obra transportada para as telas de cinema de um de seus mais conhecidos Romances : " O Amante". Ele é considerado o seu livro mais autobiográfico .
“OAmante”, escrito em 1984, recebeu o Prêmio Goncourt, o mais importante da literatura francesa e se consagrou como sua obra mais célebre. O romance e narra um episódio da adolescência de Duras: sua iniciação sexual, aos quinze anos e meio, com um chinês rico de Saigon. Se as personagens e fatos são verídicos, a escrita os transfigura e transcende; não sabemos em que medida a história é verdadeira. Os encontros amorosos são, ao mesmo tempo, intensamente prazerosos e infinitamente tristes; a vida da família contrapõe amor e ódio, miséria material e riqueza afetiva. A presença da mãe, sua desgraça financeira e moral, do irmão mais velho, drogado, cruel e venal, e do irmão mais novo, frágil e oprimido, constituem uma existência predominantemente triste, e por vezes trágica, de onde Duras extrai um esplendor artístico que se reflete em sua própria pessoa – personagem enigmática, quase de ficção. Tem sido dito que ler este livro é como folhear um álbum de fotografias – a narrativa se desenrola em torno de uma série de imagens fascinantes.
Duras, para surpresa de muitos, também foi cineasta. E realizou um trabalho primoroso com as imagens o que pode ser verificado nos mais de vinte filmes que foram dirigidos por ela e na facilidade com que seus textos se transformarem em filmes, como o fez Jean-Jacques Annaud com “O amante” em 1991. Um trecho desse filme, a cena final, com legenda em francês, pode ser assistido aqui. A fotografia é belíssima.