SER OU NÃO SER ? EIS A QUESTÃO : O DRAMA DE HAMLET
Postado em 25/03/2018.
A caminho do Fundão: Hamlet, édipo, covardia. Madame K., sempre ela, perguntou se podia assistir à minha aula. A Faculdade derretia, a sala com um mísero ventilador de teto tão barulhento quanto ineficaz, o Campus da UFRJ inteiro se dissolvia. Não tinha como dizer não à minha amiga, mas ela, muitas vezes, mais atrapalha do que ajuda. Deixava as suas tarântulas no Instituto de Biologia, grande especialista que é desses bichos, para saborear Shakespeare (o verbo saborear foi dito por ela). Tudo bem. Falávamos sobre a famosa indecisão de Hamlet, para alguns covardia, em matar o tio Claudius, assassino do seu pai, logo casado com a viúva Gertrudes. Padrasto,então, de Hamlet. O fantasma do pai lhe apareceu sobre as muralhas da cidade de Elsinore exigindo fosse vingado pelo filho. O amor duvidoso de Hamlet por Ofélia e a sua melancolia - para alguns fruto de incertezas amorosas - escondia, na verdade, a angústia e a aflição e o tormento que lhe oprimiam o peito. Hamlet cria uma situação mimética ao assassinato do padrasto, isso o aliviaria do sofrimento. Numa discussão, acusa a mãe duramente e a critica com violência. Acaba por matar a pessoa escondida atrás de longos tecidos pendurados, como cortinas. Era Apolônio, o pai de Ofélia. Matou assim simbolicamente o padrasto? Não, segundo um rapaz de longos cabelos escorridos, interpretação corroborada por uma aluna de cabelo curtinho pintado de lilás. Os alunos fizeram comentários corrigindo alguns episódios. Ainda havia muito a reproduzir da peça. Freud se referiu bastante a essa tragédia. Li também Paul-Laurent Assoun sobre o assunto. Hamlet não mata Claudius porque está mergulhado no complexo de édipo, mas lutando contra ele. O tio Claudius, seu padrasto, cometeu o crime com o qual ele, Hamlet, sempre sonhou. A culpa o rói por dentro. Seu pai, fantasma reaparecido, exige vingança. Hamlet divide-se entre sensações. Sente-se culpado por desejar a mãe. O édipo festeja o crime cometido por Claudius, que agora rouba sua mãe. Daí um Hamlet petrificado e paralisado. Incapaz de agir segundo as exigências do pai morto. Um édipo reflexivo que reage ao proibido. O recalque da civilização ( Freud). Para Freud, foi o primeiro trabalho tratando do tema depois de Sófocles e seu Édipo rei.
De súbito, em meio a uma justa correção proposta por uma aluna vestida com hábitos de freira,madame K., claro, sempre ela, impediu a continuidade da reflexão ( eu tinha certeza que ia acontecer). Melhor são as minhas tarântulas, elas matam o macho após o coito, não são covardes, gritou , batendo a porta e saindo. Não deu para terminar a aula. Passamos à leitura do crime passional no romance Bom crioulo, do Adolfo Caminha. Voltaremos na próxima aula.
COMENTÁRIOS DA PROFª VERA DIAS
O que mais fascina nas crônicas do meu amigo Godofredo não é apenas sua erudição e cultura, mas os finais inesperados. Além disso, elas me fazem recordar as coisas eu aprendi na minha época, como estudante de Letras na UERJ e de meus queridos professores. No caso particular dessa crônica, me lembrei de uma aula inesquecível que tive com um professor de Filosofia a respeito do drama de Hamlet.
Recordo que tivemos acaloradas discussões sobre as atitudes e comportamento desse antológico personagem. Meu professor era tão detalhista quanto propenso a efetuar análises profundas acerca de descrições de mínimos gestos e descrições contidas nessa peça trágica. E isso me fascinava.
Consultando meu caderno de aulas que guardei carinhosamente até hoje, deparei-me com uma anotação muito particular feita por mim com base na leitura de um artigo do meu professor. O maior dramaturgo da literatura universal, William Shakespeare, autor da dessa peça trágica, provavelmente baseou-se na publicação de Histoires Tragiques, de François de Belleforest, para compor essa obra que fala de um mito muito antigo na lenda escandinava. Hamlet é uma peça composta entre 1601 e 1602, e conta o drama de Hamlet, um solitário príncipe da Dinamarca que teve de abandonar seus estudos na Universidade de Wittenberg para ir morar na Corte, em Elsenor, depois da morte do pai.
Hamlet e Ofélia Hamlet, príncipe da Dinamarca, é seguramente a tragédia de Shakespeare mais representada em todos os tempos e a que mais se prestou a interpretações de toda ordem. Praticamente todos os escritores e pensadores importantes nos últimos quatro séculos deixaram suas impressões sobre o impacto que lhes causou a história do infeliz príncipe da Dinamarca, constrangido a fazer, sem nenhuma vocação para tal, uma terrível vingança.
Hamlet apresenta as várias faces do talento literário de Shakespeare, num texto em que drama histórico, tragédia, sátira e romance mesclam-se ao longo da apaixonante trajetória do jovem príncipe da Dinamarca.
A peça, mostra como Shakespeare apresentava uma capacidade inquietante de atravessar os obscuros labirintos da mente humana, desnudando paixões, iluminando desejos, apontando os grandes fantasmas que perseguem a humanidade desde sempre. Uma obra inigualável da literatura, onde estão presentes dúvidas, dores, medos e paixões.
Com linguagem poética, o autor expõe a profunda amargura do jovem Hamlet ao ver seu tio Cláudio, em menos de dois meses, casar com a sua mãe, a rainha Gertrudes, e assumir o trono dinamarquês. O estudo psicológico do filósofo e poeta Hamlet é realçado pelo perfeito contraponto entre diálogos e monólogos. A cena em que Hamlet é visitado pelo fantasma do pai - que exige vingança de seu assassinato, cujo autor é o atual rei - mostra o receio do protagonista diante dos fatos, através de longas conversas entre ele e o espectro, entre ele e os oficiais e até consigo próprio.
Inteligente e astucioso, Hamlet finge até ter enlouquecido no intuito de poder sobreviver. Mas o novo rei desconfia da sua insanidade. A história fica ainda mais emocionante quando, para ter certeza de que havia “algo de podre no reino da Dinamarca” (célebre frase do autor), o príncipe surpreende o padrasto fazendo uma peça contendo episódios que parecem com o da morte do seu pai. A peça perturba o rei, deixando Hamlet convencido de que o tio é realmente o criminoso.
Cláudio é retratado como um homem ambicioso, atormentado pela culpa de ter cedido a tentações. Um assassino que se arrepende de seu crime, mas não das consequências, que lamenta a morte do irmão, mas se alegra em ser rei e possuir a amada rainha, o que talvez explique as suas motivações. O forte caráter do vilão torna-se um traço de valor e dá à trama uma complexidade que não poderia ser alcançada com a simples representação da luta entre o bem e o mal.
Sabe-se que Hamlet, personagem central , tinha perdido seu pai, uma vez que o irmão deste, ou seja, seu tio, o havia matado para ficar com sua mãe.
O drama de Hamlet era matar ou não o seu tio, agir de modo a vingar a morte de seu pai ou simplesmente perdoar o tio que havia trazido a desgraça para a sua família. Obra de gênio.
Mas Godofredo foi além de meramente se referir à obra de Shakespeare. Citou o filósofo francês Paul-Laurent Assoun que preciso recordar as obras e ideias para entender a citação e provável alusão a um importante tópico relacionado a Freud e e. E como adoro descobrir e desbravar novos conhecimentos, já fui me informando que esse filósofo escreveu um livro intitulado "Freud, a Filosofia e os Filósofos", que já baixei pela Internet e pretendo ler e colocar nessa postagem minhas próximas impressões para entender a menção de Godofredo a ele. Mas isso fica para uma outra postagem.
Encerro esse comentário para meus leitores dizendo que essa é mais uma daquelas crônicas de Godofredo que nos dá um gostinho de quero mais. E que venha mais deliciosas crônicas assim !
COMENTÁRIOS DA PROFª VERA DIAS
O que mais fascina nas crônicas do meu amigo Godofredo não é apenas sua erudição e cultura, mas os finais inesperados. Além disso, elas me fazem recordar as coisas eu aprendi na minha época, como estudante de Letras na UERJ e de meus queridos professores. No caso particular dessa crônica, me lembrei de uma aula inesquecível que tive com um professor de Filosofia a respeito do drama de Hamlet.
Recordo que tivemos acaloradas discussões sobre as atitudes e comportamento desse antológico personagem. Meu professor era tão detalhista quanto propenso a efetuar análises profundas acerca de descrições de mínimos gestos e descrições contidas nessa peça trágica. E isso me fascinava.
Consultando meu caderno de aulas que guardei carinhosamente até hoje, deparei-me com uma anotação muito particular feita por mim com base na leitura de um artigo do meu professor. O maior dramaturgo da literatura universal, William Shakespeare, autor da dessa peça trágica, provavelmente baseou-se na publicação de Histoires Tragiques, de François de Belleforest, para compor essa obra que fala de um mito muito antigo na lenda escandinava. Hamlet é uma peça composta entre 1601 e 1602, e conta o drama de Hamlet, um solitário príncipe da Dinamarca que teve de abandonar seus estudos na Universidade de Wittenberg para ir morar na Corte, em Elsenor, depois da morte do pai.
Hamlet e Ofélia Hamlet, príncipe da Dinamarca, é seguramente a tragédia de Shakespeare mais representada em todos os tempos e a que mais se prestou a interpretações de toda ordem. Praticamente todos os escritores e pensadores importantes nos últimos quatro séculos deixaram suas impressões sobre o impacto que lhes causou a história do infeliz príncipe da Dinamarca, constrangido a fazer, sem nenhuma vocação para tal, uma terrível vingança.
Hamlet apresenta as várias faces do talento literário de Shakespeare, num texto em que drama histórico, tragédia, sátira e romance mesclam-se ao longo da apaixonante trajetória do jovem príncipe da Dinamarca.
A peça, mostra como Shakespeare apresentava uma capacidade inquietante de atravessar os obscuros labirintos da mente humana, desnudando paixões, iluminando desejos, apontando os grandes fantasmas que perseguem a humanidade desde sempre. Uma obra inigualável da literatura, onde estão presentes dúvidas, dores, medos e paixões.
Com linguagem poética, o autor expõe a profunda amargura do jovem Hamlet ao ver seu tio Cláudio, em menos de dois meses, casar com a sua mãe, a rainha Gertrudes, e assumir o trono dinamarquês. O estudo psicológico do filósofo e poeta Hamlet é realçado pelo perfeito contraponto entre diálogos e monólogos. A cena em que Hamlet é visitado pelo fantasma do pai - que exige vingança de seu assassinato, cujo autor é o atual rei - mostra o receio do protagonista diante dos fatos, através de longas conversas entre ele e o espectro, entre ele e os oficiais e até consigo próprio.
Inteligente e astucioso, Hamlet finge até ter enlouquecido no intuito de poder sobreviver. Mas o novo rei desconfia da sua insanidade. A história fica ainda mais emocionante quando, para ter certeza de que havia “algo de podre no reino da Dinamarca” (célebre frase do autor), o príncipe surpreende o padrasto fazendo uma peça contendo episódios que parecem com o da morte do seu pai. A peça perturba o rei, deixando Hamlet convencido de que o tio é realmente o criminoso.
Cláudio é retratado como um homem ambicioso, atormentado pela culpa de ter cedido a tentações. Um assassino que se arrepende de seu crime, mas não das consequências, que lamenta a morte do irmão, mas se alegra em ser rei e possuir a amada rainha, o que talvez explique as suas motivações. O forte caráter do vilão torna-se um traço de valor e dá à trama uma complexidade que não poderia ser alcançada com a simples representação da luta entre o bem e o mal.
Sabe-se que Hamlet, personagem central , tinha perdido seu pai, uma vez que o irmão deste, ou seja, seu tio, o havia matado para ficar com sua mãe.
O drama de Hamlet era matar ou não o seu tio, agir de modo a vingar a morte de seu pai ou simplesmente perdoar o tio que havia trazido a desgraça para a sua família. Obra de gênio.
Mas Godofredo foi além de meramente se referir à obra de Shakespeare. Citou o filósofo francês Paul-Laurent Assoun que preciso recordar as obras e ideias para entender a citação e provável alusão a um importante tópico relacionado a Freud e e. E como adoro descobrir e desbravar novos conhecimentos, já fui me informando que esse filósofo escreveu um livro intitulado "Freud, a Filosofia e os Filósofos", que já baixei pela Internet e pretendo ler e colocar nessa postagem minhas próximas impressões para entender a menção de Godofredo a ele. Mas isso fica para uma outra postagem.
Encerro esse comentário para meus leitores dizendo que essa é mais uma daquelas crônicas de Godofredo que nos dá um gostinho de quero mais. E que venha mais deliciosas crônicas assim !