As Minissaias de Madame K, a Literatura de Machado e o Preconceito Velado




Publicado em 04/01/2018

   Quincas Borba, Madame K., minissaia e envelhecimento. A pauta do encontro era o Seminário Internacional sobre Machado de Assis a se realizar em Nova Iorque, em 2019. Ela apareceu ao encontro no restaurante no Campus da UFRJ - o chamado burguesão - de surpreendente minissaia. Surpreendente de tão curta. À minha observação de espanto ela tascou logo o vocábulo machista!, comum no seu discurso ( ela está coberta de razão nesse combate). Se fosse um homem com 50 anos vestido de jovenzinho ninguém diria nada, resmungou. Só que, pensei, o seu ultimo companheiro, mais velho 10 anos, a deixou por um rapaz de 20, o fato explicaria a roupa? Quem pode me criticar por isso? Ela continuou. Nem o Machado nem você. No romance GRITO você criou a Eugenia , de 82 anos, amarradona no menino Fausto, de 19 .Se trata da Eugenia e do Fausto de romances passados, é um clichê ? Ela ironizou. Lembrei-lhe que no Quincas Borba , capitulo 64, o narrador cita uma personagem afirmando ser a adequação do nome das pessoas aos personagens uma frescura de poetas e contadores de historias, é claro que não é a palavra utilizada, mas é por ai. Constituía-se, então, naquela época, prossegui, a criação literária como algo distinto dos outros modos de produção. Ou seja, a produção artística é pratica social mas via processo estético e não em razão de ideias previamente veiculadas. Não a uma literatura autônoma codificada, e sim a uma literatura que vincula arte e formação social. É o que o Machado fez.
    Para mudar de assunto, perguntei sobre o seu laboratório cientifico no Centro de Ciências da Saúde, das tarântulas, do levantamento de insetos na obra machadiana (é sobre isso que ela vai falar em NY), sobre o descalabro politico do pais e a esperança de termos um Brasil mais democrático em 19, após as eleições. 
   Notei, em certo momento, que o restaurante inteiro - jovens meninos e meninas, senhores e senhoras de meia-idade - tinha os olhos fixos na minissaia de Madame K. Perguntei-lhe então como eu poderia me vestir para atrair tantos olhares. Ela não gostou. Me chamou de sutil preconceituoso. Mas, de súbito, abriu um largo sorriso. É que deu uma checada geral no restaurante e adorou ser admirada . Ainda conversamos uma meia hora sobre politica e arte. Na saída, uma professora do Centro de Tecnologia , incomodada, gritou de uma das mesas, Sua indecente! Mas foi a única. De fato, quem pode criticá-la? Soube, mais tarde, que ao chegar ao seu Centro ela trocou de roupa e deu as suas aulas com o indefectível jeans. Fiquei aliviado. Mas com asensação de preconceituoso. Me dirigi à Letras com esse aperto no peito. Acho que Madame K. só quis encher mesmo a paciência da gente - o seu ex-companheiro, esqueci de dizer, professor do Centro de Tecnologia, costuma também almoçar ali. Um super 18 para nós todos.


COMENTÁRIOS DA PROFª VERA DIAS

A ser publicado em breve.



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