Gennette e o Estruturalismo



Publicado em 12-05-2015








 Genette, intrometimento e ciência da literatura e dos aracnídeos.

Ela chegou descabelada e chorando. Madame K. deixava o laboratório de tarântulas devoradoras de macho pós-coito no Instituto de Biologia para vir à Letras me dar a notícia: Genette acaba de morrer. Ela fora aluna do professor em Paris e, constam as fofocas, apaixonadinha por ele. Se rolou algo não sei, acho que não, mas com Madame K. tudo é possível. O choro dela parecia, de fato, choro de viúva. A introdução ao arqui-texto é um dos meus livros de cabeceira, continuou ela tirando os óculos de sol,enxugando as lágrimas e assoando o nariz. É mais importante até que os seus Figuras. O cara sistematizou os gêneros literários, amigo, você que é da área de Letras sabe, né? Não dá para estudar arte literária sem ler o Genette, diz para os teus alunos. Pensei em lhe responder asperamente. Tinha que estudar os aracnídeos e ir lá palpitar no seu laboratório sobre as patas e os pelos daqueles bichos esquisitos que ela tanto ama. Mas me calei. Madame K. quando está depressiva sai de baixo, não vale a pena, ela vira pugilista. Um colega meu da Arquitetura é igualzinho, briguento,metido a machão, a cara e o comportamento dela. E ela não parava. A noção de arqui-textualidade é basilar, meu nego, basilar. Cabe ao leitor e à crítica a responsabilidade na definição dos gêneros. O que o Genette fez, querido, foi o equivalente à classificação dos seres vivos, como a gente estuda no Instituto de Biologia. Te pergunto, meu amigo do peito, processo estético e processo ideológico são indissociáveis, correto? Ia responder, já exausto da disenteria de língua, mas ela cortou, de súbito, o assunto. Tirou os óculos e perguntou: Quem é aquele bonitão ali comendo cachorro-quente?




CRÍTICA DA PROFESSORA VERA DIAS

Toda crítica viva ─  isto  é, que empenha  a 
personalidade  do  crítico  e  intervém  na 
sensibilidade  do  leitor  ─  parte  de  uma  impressão 
para chegar a um juízo, [...].   

                                                                            Antonio Candido 



Gérard Gennette e o Estruturalismo 


Se não conhecesse meu amigo escritor Godofredo de antemão e sabendo que ele é antes de tudo um ficcionista, queridas alunas, diria que essa Madame K., se fosse personagem da vida real, é muito esperta com seus rompantes e demonstrações de desespero extremos. E aplica bem o velho ditado que diz que casa de ferreiro, o espeto é de pau. Extravasa ao extremo seu desespero pela morte de um filósofo renomado, se descabela toda pra cima do pobre do amigo escritor e, no final, esquece tudo e só tem olhos para o belo Adônis que está a sua frente comendo cachorro-quente. Sua dor, como por encanto, some e sou bem capaz de apostar que se Godofredo continuasse escrevendo essa fábula, ela estaria correndo para o toillette e se ajeitaria toda e ainda pediria para o amigo apresentá-la a esse coitado que se converteria em alvo de seus desejos libidinosos. Não é à toa que ela adore as tarântulas. Sabemos que as fêmeas dessas aranhas devoram os machos após o ato sexual e de fato vocês bem podem imaginar onde a imaginação do nosso querido escritor levaria isso se tivesse que ser fiel aos desejos dessa ninfomaníaca, pra dizer o mínimo. (risos). Casa de ferreiro (ela é uma bióloga e tem fetiche em aranhas tarântulas) mas lá fora age e reage com atitudes bem pouco lógicas e científicas. Sabemos que na vida real tais personagens são passíveis de existirem, afinal a mente humana tem infinitas encruzilhadas e tudo é possível nesse mundo, não é mesmo ?

Porém queridas alunas, a razão do choro delas é bem real. De fato, ontem faleceu esse catedrático catedrático, causa de seus acessos  que talvez muitos não conheçam ou tenham ouvido falar : Gérard Genette. Mas como estudiosa de gêneros literários e como fiz Faculdade de Letras na UERJ e pós junto, tenho de conhecer quem foi tão importante figura.

(Noticia e nota de falecimento no link no final da postagem)

Para começar vcs estudaram comigo na Estácio lá se vão dez e tantos anos atrás duas figuras importantes : Jacques Derrida e Pierre Bordieu que apenas citei mas aprenderam em aulas de filosofia com meus colegas profs de Filosifia, o Profº Alexandre Cabral e o Antonio Augusto de saudosas memórias na UERJ qse estuda ue me lembre. Gennette trabalhou com eles e ambos são citados sempre que se cita a noção de estruturalismo.

Então vamos espanar o pó , relembrar e começar, Gerárd Genette foi um crítico literário francês e teórico da literatura que construiu a sua própria abordagem poética a partir do cerne do estruturalismo . Estruturalismo, vcs sabem : é uma corrente de pensamento nas ciências humanas que se inspirou no modelo da linguística e que depreende a realidade social a partir de um conjunto considerado elementar (ou formal) de relações. Estou explicando assim mastigadinho pra quem ainda não sabe e estiver lendo isso poder acompanhar a minha linha de raciocínio.
O termo estruturalismo tem origem no livro Cours de linguistique générale (em português, Curso de linguística geral) de Ferdinand de Saussure (1916), que se propunha a abordar qualquer língua como um sistema no qual cada um dos elementos só pode ser definido pelas relações de equivalência ou de oposição que mantém com os demais elementos. Esse conjunto de relações forma a estrutura.
O estruturalismo é uma abordagem que veio a se tornar um dos métodos mais extensamente utilizados para analisar a língua, a cultura, a filosofia da matemática e a sociedade na segunda metade do século XX. Entretanto, "estruturalismo" não se refere a uma "escola" claramente definida de autores, embora o trabalho de Ferdinand de Saussure seja geralmente considerado um ponto de partida. O estruturalismo é mais bem visto como uma abordagem geral com muitas variações diferentes. Como em qualquer movimento cultural, as influências e os desenvolvimentos são complexos.
   
Pois bem, voltemos ao ponto : ele nasceu em 1930,  e juntamente  com  Roland Barthes,  A.  J.  Greimas,  Claude  Bremond  e  Tzvetan  Todorov  são  os  críticos  mais conhecidos  de  uma  das  mais  importantes  vertentes  dessa  reflexão  teórica  literária contemporânea:  o  estruturalismo,  “a  maior  revolução  metodológica  nas  ciências humanas nos últimos cinquenta anos”, segundo Ivan Teixeira (1998, p. 34).

O principal objetivo da crítica estruturalista era a descoberta de uma gramática “segundo  a  qual  se  articulam  as  narrativas  do  homem,  que  não  são  aleatórias  nem imprevisíveis,  mas  que  obedecem  a  uma  estrutura  entendida  como  o  conjunto  de propriedades  essenciais  do  discurso  literário”.  Em  suma,  os  críticos  estruturalistas empenharam-se em construir “uma teoria da estrutura e do funcionamento do discurso literário” (TEIXEIRA, 1998, p. 35).

Os críticos, que mencionei anteriormente, fizeram parte de uma equipe que, “desde  o  número  8  da  revista  Communications,  se  propôs  estudar  em  termos  de descrição estrutural a organização da narrativa, literária ou não” (SEIXO, 1979, p. 10) e o  modelo  fundador  da  análise  estrutural  da  narrativa  baseou-se  na  linguística,  mais precisamente nos pressupostos teóricos de Ferdinand de Saussure (2000), contidos no Curso  de  linguística geral,  cuja  primeira  publicação ocorreu  em  1916  e  que  “é  com razão considerado a fonte teórica do estruturalismo moderno” (MERQUIOR, 1991, p. 23).   Roland Barthes (1972a, p. 24) sintetiza as contribuições e relações da linguística com a análise estrutural nos seguintes termos:

A  língua  geral  da  narrativa  não  é  evidentemente  mais  que  um  dos idiomas  oferecidos  à  linguística  do  discurso,  e  ela  se  submete  em consequência  à  hipótese  homológica:  estruturalmente,  a  narrativa participa da frase, sem jamais ser reduzida a uma soma de  frases: a narrativa é uma grande frase, como toda frase constatativa, é de uma certa maneira, o esboço de uma pequena narrativa. Se bem que elas disponham  aí  de  significantes  originais  (frequentemente  muito complexos),  encontram-se  com  efeito  na  narrativa,  aumentados  e transformados  à  sua  medida,  as  principais  categorias  do  verbo:  os tempos,  os  aspectos,  os  modos,  as  pessoas;  além  disso,  os  próprios ‘sujeitos’ opostos aos predicados verbais não deixam de se submeter ao  modelo  frásico:  a tipologia actancial  proposta  por  A.  J.  Greimas reencontra na multiplicidade dos personagens da narrativa as funções elementares  da  análise  gramatical.  A  homologia  que  se  sugere  aqui não tem apenas um valor heurístico: implica numa identidade entre a linguagem  e  a  literatura  (enquanto  esta  for  uma  espécie  de  veículo privilegiado da  narrativa): não  é  mais  possível  conceber a  literatura como uma arte que se desinteressa de toda relação com a linguagem, já que a usa como um instrumento para exprimir a ideia, a paixão ou a beleza: a linguagem não cessa de acompanhar o discurso estendendo-lhe o espelho de sua própria estrutura.  

Os  estruturalistas  apropriaram-se  de  conceitos  da  linguística  para  estabelecer suas bases teóricas. A narrativa passou a ser uma grande frase na qual se encontram as categorias  verbais  de  tempo,  modo  e  voz.  A.  J.  Greimas  propôs-se  a  analisar  os personagens  narrativos  (actantes)  pelo  seu  modo  de  agir  no  relato  (sujeito/objeto, objeto/destinatário, adjuvante/oponente). Finalmente, vale lembrar que a literatura usa a linguagem  para  se  exprimir  e  esta  é  o  objeto  de  estudo  da  linguística.  Portanto,  a linguística  forneceu  conceitos  e  princípios  básicos  para  a  sustentação  da  crítica estruturalista.

Gérard Genette (1972a, p. 255), portanto, foi um dos grandes teóricos estruturalistas, que definiu a narrativa  como  “a  representação  de  um  acontecimento  ou  de  uma  série  de acontecimentos,  reais  ou  fictícios,  por  meio  da  linguagem”,  e  dedica-se,  em  seus estudos,  à  exploração  das  diversas  possibilidades  do  discurso  narrativo.

 Ele escreveu  livros que é muito citado nos cursos de Letras em estudos linguísticos e no tocante a  Gêneros Literários. São os livros "Figuras" (volumes I, II e III).

Além disso, Gennette possuie inúmeros artigos publicados em revistas como Poétique, Littérature etc.   

 A  tarefa  que  se  propôs  Genette  (POIANA,  1994,  p.  23)  diz  respeito  às transformações que se operam somente no nível do discurso. Na sua teoria do discurso, dois  são  os  conceitos  fundamentais:  figura  e  estilo,  os  quais  percorrem  um  caminho único  e  “terminam  um  e  outro  por  reintegrar  a  ordem  geral  do  discurso  literário” (POIANA, 1994, p. 34), permitindo verificar a produção, a apreensão e a avaliação da obra  literária.  Assim,  para  Genette  (1972b,  p.  17),  a  obra  “sem  dúvida  [...]  deve, enquanto  tal,  permanecer  como  o  objeto  da  crítica”.  O  que  interessa  é  a  obra  em particular (o seu discurso) e não a sua gênese, suas fontes ou a biografia do seu autor. Em linhas gerais, procurei aqui dar pra vocês, queridas alunas, uma visão do que é o estruturalismo para a literatura  e  procurei  comentar  as  ideias  e  obras  de  Gérard  Genette,  um  dos  seus críticos  mais  representativos, de forma geral.  

Beijos a todas e numa próxima postagem, discorrerei mais sobre isso !



Referências Bibliográficas :


GENETTE,  Gérard.  Estruturalismo  e  crítica  literária.  In:  COELHO,  Eduardo  Prado (seleção  e  introdução).  Estruturalismo:  antologia  de  textos  literários.  São  Paulo: Martins Fontes, s/d, p. 367-392. 

 _______. Fronteiras da narração. In: BARTHES, Roland et al. Análise estrutural da narrativa. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1972a. 

 _______. Poétique et histoire. In: _______. Figures III. Paris: Seuil, 1972b.  MERQUIOR, José Guilherme. De Praga a Paris. Tradução de Ana Maria de Castro Gibson. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991.

  POIANA,  Peter.  Figure  et  style:  concepts  esthétiques  dans  la  théorie  du  discours  de Gérard Genette. In.:Littérature. Paris: Larousse, 95: 23-36, 1994.  

SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de lingüística geral. Tradução de Antonio Chelini et al. 24. ed. São Paulo: Perspectiva, 2000.  

SEIXO, Maria Alzira. A narrativa e o seu discurso. In: GENETTE, Gérard. Discurso da narrativa. Tradução de Fernando Cabral Martins. Lisboa: Arcádia, 1979.  

TEIXEIRA,  Ivan.  Estruturalismo.  Cult:  Revista  Brasileira  de  Literatura.  São  Paulo: Lemos Editorial, 15: 34-37, 1998. 



















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