Apologia da História
Comentam-se pelos bancos escolares do imperial Palácio Universitário do Campus da Praia Vermelha da UFRJ, das Unidades acadêmicas no Centro do Rio e nos gramados e corredores do Campus do Fundão, as recentes decisões do STF em Brasília. Relembre-se, por oportuno, que não há verdade absoluta e definitiva. Cada época fabrica mentalmente a sua representação do presente e do seu passado histórico. Uma visão mística do Universo caracteriza o século XVI, basta reler o majestoso Os Lusíadas, tanto sob o ponto de vista histórico quanto estético. Um mundo povoado por potências invisíveis, forças e espíritos que nos sitiam arbitrando, por assim dizer, o nosso destino. Historiadores explicam o papel das ciências da Vida e da Terra no pensamento do século XVIII e as lições de Física de Newton no universo literário de Voltaire. Ou pensemos na estética literária de Machado de Assis e no seu narrador multiperspectivado retinindo os estudos do cérebro de então e as dificuldade para apreender o real, consequência do embate feroz entre razão e emoção. Não se deve levar em consideração aí, como sublinha Cabanes, apenas a instrumentalização conceitual, mas a percepção que se tem do mundo. Lucien Fevbre evoca a importância do olfato e da audição nos escritores do século XVI, ao passo que a visão vem menos trabalhada literariamente. Descobertas científicas ou filosóficas ecoam nas representações coletivas. Braudel propõe um recorte para estudo entre micro-história e macro-história. No primeiro são avaliadas as consequências para o espírito humano de um acontecimento em curto período de tempo. Na macro-história reestrutura-se o devir gradual desse espírito humano analisando-se a progressão ou o apagamento de tal ou tal acontecimento, como por exemplo as manifestações de rua no Brasil em épocas recentes ou o redesenho da ideia de nação brasileira justa, particularmente a racial baseada no inquestionável princípio trazido pela área jurídica de que não se pode tratar igualmente os desiguais socialmente sob pena de aumentar ainda mais essas desigualdades sociais. Há, para cada época, uma estrutura psíquica que determina o comportamento dos indivíduos. Para Duby, na História das mentalidades, a história deve se debruçar sobre modelos culturais e reações pessoais. Empreender uma história social e biográfica. Como avaliar histórica e esteticamente a literatura brasileira dos últimos dez anos e a noção de sociedade e de justiça desse mesmo período? A grama do Campus do Fundão vai, inexoravelmente, virando palha. Voltará a chover prá valer?
Postado a 01/03/2014
Observações e Comentários da Profª Vera Dias
Apreciei bastante essa postagem pelo fato de Godofredo destacar a importância dos trabalhos de grandes historiadores como Braudel, Cabanes, Duby e Lucien Fevbre citados por ele pois ao nos debruçarmos isso nos seus escritos estamos resgatando a aventura intelectual do homem, o que permite entender o passado e explicar o presente, contribuindo para o enriquecimento do intelecto.
A propósito, logo no início de sua postagem, Godofredo cita uma declaração de Lucien Fevbre, influente historiador francês, que é muito citada em epígrafes de trabalhos de pesquisa em História :“Cada época fabrica mentalmente seu universo (...) De maneira semelhante, cada época fabrica mentalmente sua representação do presente e do seu passado histórico.”
E ao final ele deixa no ar uma pergunta : Como avaliar histórica e esteticamente a literatura brasileira dos últimos dez anos e a noção de sociedade e de justiça desse mesmo período?
A propósito, logo no início de sua postagem, Godofredo cita uma declaração de Lucien Fevbre, influente historiador francês, que é muito citada em epígrafes de trabalhos de pesquisa em História :“Cada época fabrica mentalmente seu universo (...) De maneira semelhante, cada época fabrica mentalmente sua representação do presente e do seu passado histórico.”
E ao final ele deixa no ar uma pergunta : Como avaliar histórica e esteticamente a literatura brasileira dos últimos dez anos e a noção de sociedade e de justiça desse mesmo período?
Com efeito, é preciso mesmo acreditar que a leitura e a consequente apreensão de sentidos de um
texto são um fenômeno marcado pela variação histórica. Senão vejamos: argumentar em favor da
ideia de que a moralidade exerceu alguma influência decisiva na recepção de romances do século
XIX seria algo no mínimo deslocado se tomássemos como padrão o que se vê nas críticas que se
estabeleceram nas Histórias Literárias elaboradas desde o início do século XX no Brasil.
E nenhuma análise estaria verdadeiramente completa se não mecionarmos o estupendo trabalho levado a cabo pelo historiador Marc Bloch que trabalhou junto com Fevbre sobre esses conceitos.
Assim, para compreendermos melhor esse fenômeno e responder com toda segurança à questão proposta, indicarei aqui a leitura de dois livros :Apologia da História de Marc Bloch e o excelente artigo "História Oral e Narrativas : Tempo, Memória e Identidades", a Profª Lucilia Delgado,Professora Titular de Metodologia da História da Pontifícia Universidade Católicade Minas Gerais. Ex-presidente da Associação Brasileira de História Oral. Muito instrutivo e bem didático , ela cita grandes expoentes que contribuiram para o estudo da História. .
E nenhuma análise estaria verdadeiramente completa se não mecionarmos o estupendo trabalho levado a cabo pelo historiador Marc Bloch que trabalhou junto com Fevbre sobre esses conceitos.
Assim, para compreendermos melhor esse fenômeno e responder com toda segurança à questão proposta, indicarei aqui a leitura de dois livros :Apologia da História de Marc Bloch e o excelente artigo "História Oral e Narrativas : Tempo, Memória e Identidades", a Profª Lucilia Delgado,Professora Titular de Metodologia da História da Pontifícia Universidade Católicade Minas Gerais. Ex-presidente da Associação Brasileira de História Oral. Muito instrutivo e bem didático , ela cita grandes expoentes que contribuiram para o estudo da História. .