Dossiê de Camus
O excelente dossiê sobre Camus publicado no Prosa do Globo deste sábado e a aproximação do aniversário do autor de O Estrangeiro suscita algumas reflexões. Para o narrador de Camus, mentir não é apenas dizer o que não é; mas, principalmente, dizer mais do que é, dizer mais do que se sente. O personagem de O estrangeiro se recusa a ocultar seus sentimentos. Como Camus publicou logo depois de O estrangeiro o O mito de Sísifo , a crítica em geral leu o romance como a ilustração desse mito. O absurdo do sujeito empurrando a grande pedra morro acima indefinidamente é um sofrimento do espírito nascido do confronto entre o pedido de socorro humano e o silêncio do mundo. A angústia decorre da distância entre os nossos desejos absolutos e o vazio que o universo nos propõe. Para Sartre, a propósito do livro de Camus, o estrangeiro enxerga o mundo através de uma vidraça. Mas certas transparências são paradoxalmente opacas. Barthes, sobre o O estrangeiro, diz que a palavra transparent...